Namoro e Encontros

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Terceira e última parte da trilogia – nos cinemas é como ter conferido na telona filmes como King Kong, E O Vento Levou, Ben-Hur, Lawrence da Arábia ou 2001: Uma Odisséia no Espaço na época de seus respectivos lançamentos. É não só se deslumbrar com um espetáculo de primeira grandeza, mas também ter consciência de que está presenciando História, com H maiúsculo.
Essa sensação pode passar em branco para parte do público que vê nos filmes da trilogia, sob o manto subestimado da fantasia, apenas uma aventura hollywoodiana bem realizada. Longe das facilidades logísticas possíveis na capital do cinema, Jackson e sua equipe tiveram de reinventar algumas técnicas, desenvolver novas tecnologias e criar um mundo crível, mesmo que ambientado em um universo fantástico. O resultado é nunca menos que inesquecível. O maior desafio enfrentado pela trilogia foi, porém, encarar a platéia cínica atual, acostumada a aplaudir épicos forjados como Gladiador. Desafio superado, haja vista a idolatria que a saga despertou ao redor do mundo. Isso sem abrir mão do espírito original e da vontade de criar uma aventura emocional única, com um pé no passado (há quanto tempo você não vê um filme terminar com um “The End”?) mas antenado com as possibilidades do cinema moderno.
O Retorno do Rei mantém a concepção inicial do filme anterior, As Duas Torres, levando em consideração que o público acompanhou a jornada de Frodo e companhia até aqui. Após um breve flashback – que remete à ocasião em que Gollum trava contato com o Um Anel pela primeira vez, levando-o a assassinar seu irmão – num trecho visivelmente inspirado em Caim e Abel – Jackson não perde tempo recapitulando o que foi contado antes. Mais do que qualquer outra série do cinema, O Senhor dos Anéis precisa ser visto como um todo. Quem assiste apenas ao segundo ou ao terceiro episódio tende a ficar confuso ou ter a sensação de que perdeu algo importante. E perdeu mesmo. Cada filme subseqüente faz referência a eventos desenrolados no(s) episódio(s) anterior(es). O que poderia ser o calcanhar de Aquiles da série, acaba fazendo sentido e contribuindo para o caráter único da trilogia. Com exceção de rápidos flashes para situar o espectador a respeito dos personagens referidos nos diálogos, Jackson, consciente de que cada minuto é precioso em se tratando de uma adaptação deste porte, segue em frente mostrando os desenlaces finais da Guerra do Anel. Em estrutura, porém, O Retorno do Rei é mais palatável que o episódio anterior. Enquanto As Duas Torres é contado como várias narrativas paralelas que permanecem assim até o clímax, que acontece ao mesmo tempo, mas em espaços diferentes de ação, em O Retorno do Rei essas narrativas se cruzam em diversos momentos, reiterando o objetivo em comum dos diversos personagens e tornando a trama mais sólida e a narrativa mais fluida.
Enquanto Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin) são guiados por Gollum (Andy Serkis) para uma armadilha mortal nas cavernas que cercam a fortaleza do inimigo, Gandalf (Ian McKellen) parte para Minas Tirith, a grande cidade branca, coração do reino de Gondor, para convencer o regente Denethor (John Noble) a se preparar para a guerra que se aproxima. As tropas de Sauron, o vilão da trama, estão se reunindo para destruir de vez o mundo dos homens. Gandalf encontra porém Denethor enlouquecido devido à pressão dos conflitos eminentes e à morte de seu filho favorito Boromir (Sean Bean). Com o povo de Gondor sem liderança, resta a Aragorn (Viggo Mortensen, foto ao lado) assumir de vez seu posto como herdeiro legítimo do trono, reunindo os povos na batalha final contra Sauron.
O fim da era da magia se aproxima. Cabem aos homens, acompanhados pela valorosa ajuda de uns poucos amigos de outras raças, salvar a Terra Média das forças do mal e da corrupção absoluta. São os homens – vivos ou mortos - que tem de superar o medo que infesta seus corações e encontrar a força necessária para tomar as rédeas de seus destinos. É equilibrando essa veia humanista com a grandiloqüência do espetáculo que Peter Jackson constrói algumas das seqüências mais contundentes já presenciadas. Mais uma vez o público é agraciado com imagens vibrantes, uma narrativa primorosa, cenas pungentes e interpretações igualmente apaixonadas de todo o elenco. O Retorno do Rei dá a cada um dos personagens a chance de provar seu valor dentro da trama e provar que mesmo a menor das criaturas pode fazer diferença. Valores como heroísmo, honra, lealdade, sacrifício e compaixão são reforçados pelas atitudes dos personagens, sem pieguismo, mas também sem evitar a emoção genuína. A batalha dos Campos de Pelennor, de uma grandiosidade insuperável, combina com perfeição os magníficos efeitos visuais, a partitura soberba de Howard Shore, a fotografia de cores impossíveis e a câmera inquieta de Jackson com a expressividade do rosto de cada um dos protagonistas, buscando sempre a reação destes perante os eventos de escala divina que os cercam.
Em todos os aspectos, O Retorno do Rei supera seus antecessores, o que só faz aumentar a admiração pela conquista obtida pela equipe de Jackson. É certo que o terceiro livro da obra de Tolkien, se não é o mais fácil (porque fácil é uma palavra que não se aplica à empreitada de adaptar a obra para o cinema), é o menos complicado de se traduzir para a tela grande. Só para efeito de comparação, considere os três filmes como apenas uma única aventura. E agora pense em O Retorno do Rei como o grande clímax desta aventura, onde todas as emoções estão no auge e tudo é superlativo. Aqui, assim como nos capítulos anteriores, tanto as cenas intimistas como as de caráter espetacular emocionam na mesma medida, pois importa ao público não só o destino da Terra Média, mas também o de cada personagem. E esse destino nem sempre é feliz como desejado. A guerra aqui traz conseqüências, algumas irreversíveis.
A aclamação mundial e o sucesso estrondoso nas bilheterias só vieram coroar este que é um dos mais bem sucedidos épicos já filmados. Num ano agraciado com alguns grandes filmes (As Invasões Bárbaras, Embriagado de Amor, Hulk, Gangues de Nova York, O Pianista, Femme Fatale, A Viagem de Chihiro, Dolls, entre outros), O Retorno do Rei reina soberano. Simplesmente porque, mais do que um belíssimo filme, Peter Jackson fez um milagre. Ele, assim como o público, a equipe, os atores, a comitiva do anel e os demais personagens de O Senhor dos Anéis, chegam vitoriosos ao fim da jornada, uma epopéia travada por conta de um só motivo: “Por Frodo”.

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