A Honda diz que o City não é uma versão encolhida do Civic. Está certa. A marca também repete várias vezes que seu terceiro carro produzido na unidade de Sumaré (SP) não é um Fit sedã. Mas veja você mesmo as semelhanças: plataforma derivada do monovolume, posição de dirigir alta, apelo familiar, porta-malas espaçoso (506 litros), porta-objetos até sob o banco traseiro e o mesmo motor 1.5 16V flex de 116 cv do modelo renovado em novembro. Até o preço, alto, é parecido. Dá para fugir do estigma de Fit esticado?
Já nas concessionárias da Honda (algumas, inclusive, cobram ágio), o City tem uma condução muito mais conservadora que a do esportivo Civic. Ao volante, aliás, ele consegue ser mais “tiozão” que o Fit. Esqueça a direção direta, a firmeza e a obediência da ótima suspensão traseira Double Wishbone do Civic para assumir um Honda que priorizou o conforto em detrimento do prazer máximo ao dirigir. Não que isso seja ruim, mas é bom entender que o sedã de 4,40 m de comprimento (50 cm a mais que o Fit) e 2,55 m de entre-eixos (apenas 5 cm de vantagem sobre o monovolume) foi projetado para um público conservador, que deve abrigar fãs da Honda que não se dão muito bem com a ideia de ter um Fit em casa ou os que acham o Civic moderno demais.
Esperto com o preciso câmbio manual de 5 marchas, o City acusa a falta de um motor maior na versão automática (veja os números de teste clicando em "Medições" no canto superior direito da tela). As acelerações exigem paciência e o ronco do motor, novamente como no Fit, invade a cabine com muitos decibéis além do que seria aceitável para um carro com preço em torno dos R$ 60 000. É um defeito que o Civic anterior também tinha.
A suspensão deixa a carroceria inclinar mais que os outros Honda em mudanças de faixa rápidas, mas não chega a balançar tanto a ponto de incomodar o motorista. Já os passageiros, principalmente os que estão no banco de trás, sentem na pele que o negócio do City é andar com tranquilidade. Quando o condutor entender o recado dado pelo próprio carro, quem vai atrás pode deitar o encosto acionando a mesma alavanca de rebatimento do assento (bipartido) e relaxar no resto da viagem.
Equipado com rodas de 15” e pneus 175/65 nas versões LX e 16”/185/55 nas opções EX, o novato da família Honda no Brasil também não gosta muito de buracos. Ele não chega a fazer barulhos que sugiram fragilidade do conjunto, mas dá batidas secas nas ondulações que pudemos enfrentar e faz o motorista sentir dó quando aparece aquela valeta inesperada. Exatamente como o Fit com rodas de 16” usado no Teste dos 100 Dias.
Desmemoriado
Você anda sempre com um pen-drive à mão, gosta de plugar o iPod no som e tem sempre a música favorita num CD? Boa notícia: o City aceita tudo isso com a maior boa vontade e toca as melodias em boas caixas acústicas. Seu negócio é ir “zapeando” de rádio em rádio em busca dos programas e sons preferidos? Má notícia: ele não tem botões de memória convencionais de 1 a 6. Ele permite que você sintonize 30 estações de AM e 30 de FM, mas o jeito é ir escalando uma a uma por meio do botão giratório central (que também serve para regular o volume).
A boa notícia é que o City vem bem equipado: na versão LX, de R$ 56 210, o sedã traz ar-condicionado, direção eletricamente assistida, vidros, travas e retrovisores elétricos, chave com abertura e fechamento das portas, alarme, banco com regulagem de altura, coluna de direção ajustável em altura e profundidade, CD player compatível com MP3 integrado ao painel e airbag duplo. O câmbio automático custa R$ 3 800 e eleva o preço para R$ 60 010.
No degrau superior, o Honda City EX (manual por R$ 61 650 e automático a R$ 65 450) oferece a mais maçanetas e ponteira do escapamento cromadas, retrovisores com luzes indicadoras de direção, volante com acabamento de couro e controles do sistema de som, ar-condicionado automático digital, controle de velocidade de cruzeiro e freios com ABS (sistema antitravamento) e EBD (distribuidor da força de frenagem). Na top EXL (R$ 65 375/R$ 71 095), as novidades são farol de neblina, bancos de couro e comandos do câmbio automático no sofisticado volante também usado no Fit e no Civic. Faltou o providencial sensor de estacionamento, ausente nos Honda nacionais.
O acabamento e o nível de requinte é apenas razoável. Os plásticos de porta parecem ser melhores que os do Fit, mas falta um algo a mais num carro desse valor. Basta comparar com um Volkswagen Polo Sedan completo, que custa R$ 56 755 e traz interior com maçanetas cromadas, bancos de couro e ABS, ausentes no City mais barato.
Mas eles concorrem de fato? “O City inaugura um segmento novo”, diz o engenheiro da Honda Alfredo Guedes, afirmando que não há exatamente um rival direto para o lançamento. Questionado sobre quem seriam os potenciais compradores do carro e perguntado sobre o que achava da ameaça específica de Volkswagen Polo e Fiat Linea, Guedes finalmente fez um paralelo. “Provavelmente donos de sedãs pequenos migrarão, e aí esses carros também se encaixam.”
Feito para emergentes
Lançado no mercado asiático em 1996, o City ganhou uma segunda geração em 2002 e, na terceira, acabou estreando também no Brasil. Quase todos os 91 países nos quais o carro é vendido guardam uma semelhança: são mercados emergentes. O modelo, portanto, foi projetado para ser uma opção relativamente barata em relação a carros sofisticados.
No Brasil, a Honda resolveu lançar o City com uma gama de equipamentos digna de modelos mais caros e espera vender nada menos que 3 700 unidades por mês (68% automáticas e 32% de manuais). A maioria com preço de Civic. Boa sorte aos vendedores.
Honda City
sábado, 12 de setembro de 2009
Marcadores: CARRO
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