Namoro e Encontros

Novo Kia Cerato

quinta-feira, 10 de setembro de 2009


“O Cerato anterior era antiquado, eu diria quase jurássico”, disse Ary Jorge Ribeiro, diretor de vendas da Kia, durante a apresentação da nova geração do sedã importado da Coréia do Sul. Cerato anterior que, talvez você não lembre, já foi vendido no Brasil. O desempenho modesto do antigo sedã, porém, dá impressão de que estamos vendo a chegada de um Kia inédito no país, não de sua nova geração – e causa essa estranha situação de ver a marca querer dissociar o três-volumes “antiquado e quase jurássico” do atual.

Desembarcando no mercado nacional nas versões básica (R$ 49 900), intermediária (R$ 52 900) e top (R$ 57 900), o Cerato traz motor 1.6 16V de 126 cv, grandes trunfos e dois problemas. As cartas na manga são o design completamente reformulado, a qualidade de construção digna de marcas japonesas e o preço baixo se levarmos em conta o nível de equipamentos do modelo e o valor dos concorrentes diretos com pacotes semelhantes. Os entreveros, porém, são igualmente proporcionais às vantagens: a falta de um motor flex e a dificuldade de trazer ao país grande lotes para atender à demanda e, num efeito cascata, colocar mais unidades do Cerato nas ruas, aumentar sua popularidade, valor de revenda e confiança do cliente na compra de um carro coreano. É uma equação interessante e fica ainda mais complexa quando os concorrentes entram na conta. Vejamos com calma.

Por R$ 49 900, o Cerato já sai da concessionária com ar-condicionado, direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos, airbag duplo, CD player compatível com MP3 dotado de entradas auxiliar e USB, comandos do som no volante, banco com regulagem de altura, repetidores das setas nos retrovisores, rodas de liga leve de 15”, coluna de direção regulável somente em altura, computador de bordo e alarme na chave. A versão de R$ 52 900 acrescenta a esse pacote freios ABS (antitravamento) com EBD (distribuição da força de frenagem), ar-condicionado digital, faróis de neblina, rodas de 16”, revestimento do câmbio e do volante de couro, detalhes de aço escovado e interior com tons mais claros nas portas, painel e bancos. O Cerato top de linha agrega o câmbio automático e custa R$ 57 900.

De acordo com a Kia, seu sedã foi feito mundialmente para concorrer com o Honda Civic, mas aqui, além de roubar clientes do tradicional modelo japonês, também baterá de frente com o City, lançado em julho – e provavelmente será com o misto de Civic e Fit que o lançamento da Kia mais medirá forças. Na tabela da Honda, um City manual começa em R$ 56 210 e traz ar-condicionado, direção eletricamente assistida, trio elétrico, alarme na chave, banco com regulagem de altura, coluna de direção ajustável em altura e profundidade, CD player compatível com MP3 dotado de entradas auxiliar e USB e airbag duplo. O câmbio automático custa R$ 3 800 e eleva o preço para R$ 60 010. Na comparação, podemos concluir que você leva um Cerato top, com caixa de marchas automática, ar digital, rodas de 16”, freios ABS, controles do som no volante, repetidores de setas e faróis de neblina, entre outros itens não presentes no City mais barato, por R$ 1 690 a mais que o cobrado pela versão de entrada do Honda.

Além do City e do Civic, que parte de R$ 64 365, a Kia ainda aponta como rivais do Cerato outros sete modelos: Fiat Linea LX 1.9 16V (R$ 53 990), Ford Focus GLX 2.0 16V (R$ 57 855), Renault Mégane Expression 1.6 16V (R$ 51 790), Peugeot 307 Presence 1.6 16V (R$ 52 500), Toyota Corolla XLi 1.8 16V (R$ 59 390), Volkswagen Polo Comfortline 1.6 (R$ 51 365) e Bora 2.0 (R$ 53 990). Chevrolet Vectra Expression 2.0 (R$ 54 098) e Nissan Sentra (R$ 55 290) ficaram de fora do quadro comparativo (a Kia não explicou direito o motivo), mas provavelmente também estarão no hall de competidores.

Escola europeia aproxima Cerato dos japoneses

“Rapaz, que bonito. É lançamento?”, perguntou um dono de Ford EcoSport em Bertioga (SP) quando a caravana de Cerato que desceu a serra no test-drive de lançamento do modelo parou para troca de motorista. Por mais que julgar o design de um modelo seja uma tarefa delicada e subjetiva, os comentários são um bom parâmetro para ter noção da aceitação do carro. E na tarefa de torcer pescoços e fazer os outros motoristas procurarem o logo da montadora, deixarem o Kia passar à frente para ver a traseira e depois acelerarem de novo, o Cerato foi mais eficiente que o esperado.

Se a Kia tem de agradecer a alguém por isso, sem dúvida essa figura é Peter Schreyer, atual chefe de design dos coreanos que deixou a Audi para levar suas pranchetas aos estúdios que desenvolveram o próprio Cerato e o Soul. Uma rápida olhada no sedã revela que Schreyer provavelmente dissecou as linhas de um Civic antes de começar a conceber o novo Kia, mas isso não é um demérito. Ao vivo, o Cerato é tão bem resolvido quanto sugerem as fotos. E com a vantagem de ter um porta-malas de 415 litros, 75 a mais que os 340 do Civic. O bagageiro do City, porém, traz 506 litros.

Na hora de subir a serra com o sedã, mais boas surpresas. O giro na chave revela um carro silencioso, o toque no câmbio traz uma alavanca curta e precisa e o início do rodar segue agradável nos primeiros quilômetros de estrada em perfeitas condições. Mesmo com três ocupantes e ar-condicionado ligado, a versão manual teve um desempenho razoável nos trechos de subida. A única exigência do motor 1.6 era manter mais de 3 000 rpm, já que o torque máximo, como é comum em carros com pequena cilindrada e cabeçote de 16 válvulas, surgia tarde (15,9 kgfm a 4 200 rpm, enquanto os 126 cv aparecem a 6 300 rpm). Com o câmbio automático de 4 marchas, porém, o Cerato não consegue extrair tudo de seu motor, e aí a caixa de 5 marchas do City leva vantagem mesmo com o motor menor do Honda (1.5 16V de 116 cv com álcool). Segundo a marca, o Kia acelera de 0 a 100 km/h em 12s0 na versão automática (os números do carro manual não foram divulgados) e chega a 182 km/h.

Equilibrado, o Cerato serpenteou muito bem as curvas da rodovia Mogi-Bertioga, castigada por uma chuva incessante, e demonstrou bons acertos de suspensão (que também foi bem nos buracos) e direção (não tão direta como a de um Civic, mas menos conservadora que a do City).

Se você gostou do que leu e quer checar de perto a possibilidade de ter um Kia desses na garagem, é bom correr a uma das concessionárias da marca, já que os estoques, por ora, ainda estão baixos. “Tivemos um problema de greve na Coréia, mas isso estará regularizado a partir da segunda quinzena de setembro”, promete José Luiz Gandini, presidente da marca. Por isso, até o fim do ano a Kia pretende vender 3 000 Cerato, média de 750 carros por mês. É pouco se compararmos novamente com o City, cujas metas preveem 3 700 carros/mês nas ruas. “É difícil para uma marca coreana, que paga 35% de imposto de importação, vender tanto assim. E também existe o problema de gargalo de produção na fábrica”, explica Gandini.

Certamente a tarefa do Cerato – ter sucesso no disputadíssimo segmento de sedãs médios – não é fácil. Para isso, porém, ele conta com as armas do custo/benefício, do novo design e, por que não?, de uma certa exclusividade, mas peca pela falta do motor flex (que a marca promete para 2010) e pelo pouco volume de carros nas autorizadas. Essas ausências, porém, são mais atributos de mercado que do produto em si. Como carro, o Cerato cumpre a promessa do slogan da Kia, marca que se vende com a frase “O Poder de Supreender”. Boa supresa.

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